Marina Silva Xavier |
Depois de 8 anos de moradia e trabalho no Parque Nacional do Iguaçu, o meu projeto de mestrado não poderia deixar de lhe render justas homenagens… Assim começou a minha inserção no laboratório e a inclusão do ParNa Iguaçu como tema de mestrado. O estudo desenvolvido buscou avaliar a efetividade deste parque na conservação da biodiversidade com base na análise dos padrões de ocupação de mamíferos terrestres de maior porte. Estávamos particularmente interessadas em entender o efeito espacial e temporal do turismo, da caça e da borda na ocorrência dos mamíferos, animais sensíveis às atividades antrópicas. Meu interesse maior na biologia concentra-se nas áreas de Ecologia e Biologia da Conservação. Atuei como coordenadora de campo do projeto Carnívoros do Iguaçu de 2009 a 2017 - um projeto que objetivava estudar e preservar a população relictual de onças-pintadas no Parque Nacional do Iguaçu e região.
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Projeto de
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Efetividade de áreas protegidas para a conservação da biodiversidade: padrões de ocupação de mamíferos no Parque Nacional do IguaçuÁreas protegidas são consensualmente reconhecidas como a principal estratégia para a conservação da biodiversidade. Avaliar a efetividade destas áreas, especialmente em biomas como a Mata Atlântica onde as áreas protegidas são como ilhas de floresta em paisagens altamente alteradas pelo homem, é de suma importância. O Parque Nacional do Iguaçu (PNI) abriga um dos maiores remanescentes de Mata Atlântica do Brasil, possui alta visitação turística, assenta-se sobre solos férteis, sofrendo muitas pressões advindas das paisagens antropizadas adjacentes, e é considerado um dos parques mais bem geridos no país. Este trabalho buscou avaliar a efetividade desta área protegida através da análise do padrão de ocupação de 17 espécies de mamíferos terrestres de maior porte em relação à proximidade a atrativos turísticos, distância da borda do parque e pressão de caça. Informações sobre ocupação foram obtidas entre 2009 e 2013 através de armadilhas fotográficas distribuídas sistematicamente em 37 sítios amostrais em cerca de 300 km2, um sexto da área do parque. Muitas espécies raras ou localmente extintas em outros remanescentes de Mata Atlântica apresentaram altas taxas de ocupação no PNI, que juntamente com poucas áreas protegidas do sudeste do Brasil representam as únicas áreas do bioma que ainda abrigam uma fauna de grandes mamíferos intacta. No entanto, a distribuição de 11 das 17 espécies analisadas não foi homogênea, tendo sido afetada por pelo menos um dos fatores de ameaça estudados, principalmente a distância da borda do parque e proximidade a atrativos turísticos. O efeito negativo destas ameaças deve ser ainda mais forte em áreas protegidas menores e mais isoladas, que representam a maioria em biomas muito alterados como a Mata Atlântica. Medidas como o restabelecimento e manejo de zonas tampão, a manutenção de atrativos turísticos em áreas restritas, o combate efetivo das atividades ilícitas e a redução de conflitos entre animais silvestres e o homem, são fundamentais para a efetividade de áreas protegidas para conservação da biodiversidade no longo prazo.
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