Karina Campos Tisovec Dufner |
Sempre tive grande interesse pela área das ciências naturais e fascínio pela vida animal e por isso decidi seguir no caminho da biologia. Entre 2007 e 2012 fiz minha graduação em bacharelado e licenciatura no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo e trabalhei em minha iniciação científica investigando a influência do risco de predação na formação de bandos mistos de primatas das espécies Mico-Leão-de-Cara-Dourada (Leontopithecus chrysomelas) e Sagui de Wieid ou Sagui-de-Juba-Preta (Callithrix kuhlii). Durante minha graduação, também trabalhei como estagiária na UMAPAZ (Universidade do Meio Ambiente e Cultura de Paz) vinculada à Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo, com projetos ligados à educação ambiental e como voluntária no Toronto Wildlife Centre, um centro de reabilitação de animais silvestres em Toronto, Canadá. Após me afastar da academia por um tempo, no qual me dediquei à área da educação, voltei em 2016 para iniciar meu mestrado em ecologia no IB-USP que finalizei em julho de 2018. Em meu projeto do mestrado investiguei as relações dentro de Sistemas Socioecológicos, avaliando como o contexto ecológico onde proprietários rurais vivem influencia a intenção de preservar e manter a integridade dos remanescentes florestais.
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Projeto de
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Intenção de preservar remanescentes florestais entre proprietários de terra na Mata Atlântica: o papel do contexto ecológico e das experiências com a naturezaDesvendar os processos psicológicos que determinam o apoio dos proprietários de terras à conservação das florestas é fundamental, particularmente, nos países em desenvolvimento, onde a maioria dos remanescentes florestais se encontra em áreas privadas. Como as conexões humano-natureza são conhecidas por moldar comportamentos pró-ambientais, a intenção de preservar remanescentes florestais deve ser, em última instância, determinada pelo contexto ecológico no qual as pessoas vivem. Neste trabalho, investigamos os caminhos pelos quais o contexto ecológico (cobertura florestal), através das experiências com a natureza (contato, usos e perdas associados às florestas), influencia os determinantes psicológicos do comportamento de conservação (crenças, atitude e intenção de preservar remanescentes florestais). Formulamos um modelo baseado na Abordagem da Ação Racional, usando o contexto ecológico e as experiências com a natureza como fatores de base, e o testamos através da Piecewise SEM. Os dados foram coletados através de protocolo aplicado, por meio de entrevista, a 106 proprietários de terra em 13 paisagens que variam em cobertura florestal em uma região da Mata Atlântica. Nossos resultados indicam que: (i) serviços ecossistêmicos são mais importantes que desserviços para moldar a intenção de preservar florestas, particularmente outros serviços que não os de provisão; (ii) o contato com a floresta tem um efeito indireto sobre a intenção, influenciando positivamente os usos da floresta; (iii) as pessoas que vivem em contextos ecológicos mais florestados têm mais experiências com a natureza e, assim, uma intenção mais forte de preservar as florestas. Nosso estudo, portanto, sugere um perigoso ciclo de retroalimentação positiva entre o desmatamento e a extinção das conexões humano-natureza. As demandas locais considerando toda a gama de serviços ecossistêmicos, o balanço entre serviços e desserviços e o contexto ecológico no qual as pessoas vivem devem ser considerados ao se desenvolverem iniciativas de conservação em áreas rurais.
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Iniciação
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Influência do risco de predação na formação de bandos mistos de Callithrix kuhlii e Leontopithecus chrysomelasBandos mistos são associações frequentes entre primatas e têm como principais vantagens àquelas relacionadas ao uso dos recursos e estratégias antipredatórias. No Brasil, entre os bandos mistos formados por primatas, o caso do Mico-Leão-de-Cara-Dourada (Leontopithecus chrysomelas) e Sagui de Wieid ou Sagui-de-Juba-Preta (Callithrix kuhlii) é o único registrado no bioma Atlântico. Existem registros desses bandos mistos na região do sul da Bahia, onde grande parte da vegetação original substituída por agroflorestas de cacau (cabrucas). As cabrucas possuem uma menor densidade de árvores e ausência de lianas, usadas pelas espécies arborícolas para locomoção e fuga, quando comparadas às florestas originais. Os dois primatas utilizam as cabrucas como habitat, e os fatores acima mencionados podem contribuir para um aumento do risco de predação por seus predadores naturais, especialmente aves de rapina. Este trabalho teve como objetivo testar se a simplificação da estrutura da vegetação resulta em aumento da formação de bandos mistos, sendo um indício do aumento do risco de predação desses primatas. Para isso, foram utilizados registros fotográficos coletados em sete pares cabruca-floresta e 21 cabrucas com diferentes intensidades de manejo. Os resultados mostram que as duas espécies são sensíveis à conversão de matas em cabrucas e à intensificação das agroflorestas representada pela redução da conexão do dossel, com uma resposta mais pronunciada para o mico-leão. Em relação ao comportamento da formação de bandos mistos existem assimetrias entre as espécies participantes, Callithrix kuhlii e Leontopithecus chrysomelas não responderam da mesma forma às mudanças ambientais, uma vez que apenas para o mico-leão a proporção de bandos mistos foi maior em áreas mais abertas. Diante desta perspectiva é importante um planejamento a longo prazo de manutenção de árvores nativas e importantes para a fauna nas agroflorestas, incentivando formas de manejo menos intensivas e levando em conta a conexão entre copas de árvores, garantindo assim o papel das cabrucas como corredores ecológicos. Este foi o primeiro trabalho que avalia a formação de bandos mistos em diferentes ambientes utilizando a metodologia de câmeras-trap. Apesar das armadilhas fotográficas não serem comuns nos estudos comportamentais de primatas, o uso conjunto com a telemetria e observações de grupos habituados pode trazer grandes benefícios aos estudos de primatológicos e etológicos.
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