Diana Bertuol Garcia |
Sou formada em bacharelado e licenciatura em ciências biológicas aqui mesmo na USP e desde o começo da graduação me interessei pela área de Ecologia, principalmente nas suas possíveis aplicações. No mestrado, trabalhei com a interação entre a esfera científica e a esfera da tomada de decisão, envolvendo tanto desenvolvimento de políticas públicas quanto gestão e manejo de sistema ecológicos e sócio ecológicos. Primeiro, eu fiz uma revisão da literatura científica das áreas de Ecologia e Conservação para entender as perspectivas sobre essa interface ciência-prática e avaliei essas perspectivas com base em uma literatura mais ampla de Ciência Política e Ciência, Tecnologia e Sociedade. Depois, entrevistei cientistas e tomadores de decisão brasileiros para entender como os pontos de vista desses atores sobre como a relação entre ciência e prática deveria se dar para que a tomada de decisão de conservação fossem mais efetivas. Atualmente, sou professora de Biologia no Ensino Médio na Escola de Aplicação da USP e em um curso eletivo para alunos de Ensino Médio no Colégio Santa Cruz.
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Projeto de
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A interface ciência-prática em Ecologia e Conservação: um esquema conceitual e modos de pensar compartilhados entre cientistas e tomadores de decisãoDiversos debates atuais em Ecologia e Ciência da Conservação estão centrados em como navegar na interface entre ciência e prática com o objetivo de usar a ciência para apoiar soluções efetivas e viáveis para os problemas ambientais. Esta dissertação tem como objetivo geral contribuir com caminhos para navegar na interface ciência-prática ao identificar, através de uma abordagem interdisciplinar, (1) como o debate acadêmico sobre este assunto tem sido feito e (2) como a relação entre ciência e prática é percebida por cientistas e tomadores de decisão. No capítulo 1, apresento uma revisão da literatura, conduzida a partir de 1563 frases sobre as causas da lacuna ciência-prática extraídas de 122 artigos publicados em periódicos de Ecologia e Conservação da Biodiversidade. Uso técnicas de análise de texto para organizar essas causas em um esquema conceitual que descreve três perspectivas sobre os processos, conhecimentos e atores importantes na interface ciência-prática. A seguir, averiguo a predominância dessas perspectivas ao longo do tempo e em diferentes periódicos, para depois avaliar as perspectivas à luz de disciplinas que estudam o papel da ciência na tomada de decisão, como a Ciência Política. A predominância ao longo do tempo da perspectiva centrada em um fluxo unidirecional de conhecimento da ciência para a prática sugere que o debate em Ecologia e Conservação não seguiu a tendência observada em outras disciplinas na direção de perspectivas enfatizando um fluxo bidirecional e integrativo de conhecimentos entre a ciência e a prática. Em Ecologia e Conservação, a perspectiva integrativa parece estar restrita a tradições de pesquisa historicamente isoladas da Biologia da Conservação, que, por sua vez, é dominada por abordagens de “conservação baseada em evidência”. Todas as perspectivas constatadas representam visões superficiais da tomada de decisão ao desconsiderarem limites à racionalidade humana, a complexidade da tomada de decisão, fronteiras difusas entre ciência e prática, a ambiguidade trazida pela ciência e diferentes tipos de uso de conhecimento. Por outro lado, a perspectiva integrativa que enfatiza o trabalho colaborativo entre cientistas e tomadores de decisão permite potencialmente processos de tomada de decisão mais democráticos e discussões explícitas de valores. No capítulo 2, eu me volto para cientistas e tomadores de decisão do Brasil, um país tropical em desenvolvimento com uma ciência crescente e uma rica biodiversidade, mas cujas políticas ambientais vem sofrendo diversas ameaças. A partir das três perspectivas do esquema conceitual do capítulo 1, elaborei uma lista de 48 frases descrevendo como a interface entre ciência e prática deveria ser. Usando a metodologia Q advinda da Psicologia, pedi para 22 ecólogos e analistas ambientais do IBAMA ranquearem suas concordâncias com essas frases. Uma análise de componentes principais revelou três grupos de participantes com ranqueamentos similares, apresentando, portanto, modos de pensar compartilhados sobre a interface ciência-prática. Todas as formas de pensar conferiram grande importância para atores e conhecimentos da ciência e da prática, mas houve divergência nos papéis atribuídos à ciência, aos cientistas e aos tomadores de decisão, indicando a necessidade de debater abertamente os papéis que se espera que cada ator assuma nas parcerias entre ciência e prática. Além disso, a falta de estímulo organizacional parece ser um entrave maior para essas parcerias do que diferenças culturais entre cientistas e tomadores de decisão. Na última sessão da dissertação, eu integro as conclusões dos dois capítulos, ressaltando as implicações mais importantes para uma melhor compreensão da interface ciência-prática e para o fomento de parcerias produtivas entre ciência e prática em Ecologia e Conservação.
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