Bruno Pinotti |
Fiz a graduação no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo no período de 2002 a 2005. Entrei neste laboratório em 2004, e em 2005 desenvolvi meu projeto de iniciação científica, que teve como objetivo analisar a influência da disponibilidade de alimento na dieta e distribuição espacial de pequenos mamíferos. Em 2006 desenvolvi um projeto com o objetivo de avaliar o papel do tamanho e grau de conectividade de fragmentos de Mata Atlântica, além de características internas do habitat na determinação da disponibilidade de alimento para espécies insetívoras da fauna. Em 2007 iniciei meu mestrado, que é o projeto no qual estou envolvido no momento, que tem como objetivos avaliar a influência da regeneração florestal sobre os pequenos mamíferos terrestres, sobre características estruturais e de disponibilidade de alimento, além de avaliar como essas características do ambiente afetam os pequenos mamíferos.
Meus interesses atuais são compreender quais fatores do ambiente determinam as respostas de espécies especialistas e generalistas ao processo de regenerção florestal, e com isso entender os processos por trás dos padrões já conhecidos de resposta desses dois grupos à regeneração. Com isso poderemos entender melhor o valor de florestas maduras e secundárias tanto para a conservação de espécies generalistas quanto (e principalmente) da espécies especialistas de floresta, que são as mais ameaçadas pelos processos de perda, fragmentação e secundarização de florestas tropicais. |
Projeto de
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Pequenos mamíferos terrestres e a regeneração da Mata Atlântica: influência da estrutura do habitat e da disponibilidade de alimento na recuperação da faunaAtravés da amostragem de 28 sítios em diferentes estádios de regeneração em uma área de Mata Atlântica contínua, procuramos nesta dissertação contribuir para o entendimento dos mecanismos relacionados às mudanças faunísticas observadas durante o processo de regeneração em florestas tropicais, e, assim, melhor compreender o valor das florestas secundárias para a conservação da biodiversidade tropical. Para isso, na primeira parte da dissertação investigamos a influência da regeneração sobre características de estrutura da floresta e disponibilidade de alimento consideradas importantes para diversos grupos da fauna. Encontramos maior profundidade do folhiço, volume de galhadas e disponibilidade de frutos de uma abundante palmeira de sub-bosque nas florestas mais maduras, enquanto que nas áreas em estádio mais inicial de regeneração encontramos maior conexão da vegetação, biomassa de artrópodes no solo e disponibilidade de frutos no total e da espécie de planta mais abundante no sub-bosque. Essas modificações podem estar relacionadas às mudanças na fauna observadas durante a regeneração florestal. As espécies que dependem de características só encontradas nas matas mais maduras, como espaços abertos para movimentação, maior complexidade do chão da floresta, ou determinados recursos alimentares poderiam encontrar limitações em áreas em estádios mais iniciais de regeneração, ao passo que espécies que não dependem desses recursos poderiam se beneficiar da maior disponibilidade total de alimentos, ou da maior conexão da vegetação para movimentação, encontradas nessas áreas. Na segunda parte do trabalho, avaliamos a influência da regeneração e de características estruturais e de disponibilidade de alimento sobre espécies endêmicas (especialistas de floresta) e não-endêmicas (generalistas de habitat) de pequenos mamíferos terrestres. Como previsto, observamos que um grupo de espécies (generalistas de habitat) prolifera nas áreas mais jovens, enquanto que o outro grupo (especialistas de floresta) foi mais comum, embora de maneira mais sutil, nas áreas mais maduras. Esses padrões foram em parte explicados pelas variáveis mensuradas, principalmente a disponibilidade de recursos alimentares. Aparentemente, as espécies generalistas estão se beneficiando da maior disponibilidade de alimentos encontrada nas áreas em estádio mais inicial de regeneração, enquanto que as especialistas possuem maior capacidade de ocupação das áreas mais maduras, onde esses recursos são mais escassos. Portanto, esses resultados sugerem um compromisso (trade-off) entre capacidade competitiva e capacidade de utilização de recursos abundantes, como prevê o mecanismo de nicho sucessional, proposto inicialmente para explicar a sucessão de espécies vegetais. As características encontradas nas florestas mais jovens favoreceram a proliferação de espécies de pequenos mamíferos terrestres generalistas de habitat. Entretanto, o efeito positivo da regeneração florestal sobre as espécies especialistas, de maior interesse para a conservação, foi menos acentuado, de forma que as florestas secundárias abrigaram uma assembléia de pequenos mamíferos terrestres rica, podendo, portanto, representar um importante instrumento de aumento de área e conectividade em paisagens altamente modificadas, como as encontradas na Mata Atlântica. Entretanto, esses resultados não reduzem o valor das florestas maduras, principalmente em paisagens fragmentadas e para grupos mais sensíveis da fauna. Essas florestas devem ser protegidas, assim como deve ser garantida (e se preciso auxiliada) a regeneração das florestas secundárias, para que possam adquirir em longo prazo as condições necessárias à manutenção das espécies e dos grupos de espécies da fauna mais severamente afetados pela secundarização das florestas tropicais.
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Iniciação
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Dieta e influência da disponibilidade de alimento na distribuição espacial de espécies de pequenos mamíferos em uma área de Mata Atlântica madura do Estado de São PauloO habitat é uma entidade complexa que apresenta uma série de atributos que influenciam a ocorrência das espécies animais. Os atributos freqüentemente considerados como mais importantes para a distribuição e abundância, assim como para a explicação da coexistência de espécies pertencentes à mesma guilda, são aqueles relacionados à estrutura física do habitat ou micro-habitat e aos recursos alimentares. Apesar de representar uma das características mais importantes da biologia de um animal, a dieta dos pequenos mamíferos da Mata Atlântica é muito pouco conhecida. Para algumas espécies não existe nenhuma informação na literatura e, dentre os trabalhos existentes, a maioria é puramente descritiva, não levando em consideração características importantes do ambiente que nos permitiriam entender a dieta como um processo dinâmico. Os objetivos deste trabalho são descrever a dieta das espécies de pequenos mamíferos, de modo a verificar a importância dos artrópodes como itens alimentares, testar a existência de seleção de itens alimentares pelas espécies de pequenos mamíferos primordialmente insetívoros e verificar como a variação da disponibilidade de artrópodes no solo influencia a distribuição espacial das mesmas. A coleta de dados está sendo feita em uma área de Mata Atlântica madura da Reserva do Morro Grande, região de Caucaia do Alto – SP, onde 25 estações amostrais, distantes 150 m umas das outras e que cobrem uma grade de 36 ha, foram instaladas. Em cada estação amostral estão sendo capturados os pequenos mamíferos em armadilhas de queda e estão sendo feitas as coletas dos artrópodes do folhiço através da triagem de amostras de folhiço e da coleta com pequenas armadilhas de queda. A dieta será avaliada através da análise dos conteúdos estomacais dos indivíduos que eventualmente morrerem nas armadilhas. Para as espécies predominantemente insetívoras, a importância das ordens de artrópodes na dieta será comparada com a disponibilidade das mesmas no ambiente através do método de “utilização-disponibilidade”. Para estas mesmas espécies insetívoras, a disponibilidade das principais ordens de artrópodes (definidas pelo conteúdo estomacal) por estação amostral será relacionada, através de regressões logísticas e lineares, à presença e abundancia das espécies nas estações amostrais. Este projeto está sendo feito em conjunto com outro de iniciação cientifica (processo FAPESP 04/04959-1), que está quantificando variáveis associadas à estrutura física do ambiente e à disponibilidade de frutos nas mesmas estações amostrais, permitindo que análises futuras investiguem a importância da estrutura do habitat versus disponibilidade de alimento para a distribuição em micro-escala das espécies de pequenos mamíferos em áreas maduras de Mata Atlântica.
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