Beatriz Demasi Araújo |
Sou bacharela e licenciada em ciências biológicas (USP) e atualmente faço mestrado. Sou apaixonada por entender e estar na natureza, e por isso decidi ser bióloga, mas sempre tive múltiplos interesses, sobretudo ligados a compreender as sociedades humanas: sua história, cultura e conflitos. Por isso, durante minha graduação busquei expandir minha formação e tive a oportunidade de fazer estágios na área da educação, da divulgação científica e na Secretaria do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo, na área de avaliação e proteção ambiental. Neste último, tive intenso contato com diversos conflitos que permeiam as questões sócio-ambientais da cidade, experiência que, junto a disciplinas da graduação com foco em conservação, me fizeram aprender sobre a complexidade e relevância de tais questões. Meu interesse por Ecologia foi se direcionando para áreas mais aplicadas, como a Ecologia Humana, e na Iniciação Científica trabalhei com os trade-offs entre serviços e desserviços ecossistêmicos da perspectiva da demanda de proprietários rurais da região da Mata Atlântica. Essa experiência me colocou em contato com a abordagem de sistemas sócio-ecológicos, a qual estou adotando para meu mestrado. Acredito que a conservação da natureza depende das relações humanas, que não podem ser ignoradas ou suprimidas. Assim, no meu mestrado irei investigar as relações humano-natureza no contexto de comunidades pesqueiras tradicionais do norte da Bahia, bem como suas implicações para a conservação sócio-ambiental desses locais.
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Projeto de
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Investigando as relações humano-natureza para uma ciência da conservação plural: uma nova ferramenta para identificar formas de pensar aplicada na comunidade pesqueira de Siribinha, BahiaCom o avanço da crise socioecológica, formas tradicionais de se relacionar com a natureza estão sendo erodidas, culminando na perda massiva de diversidade cultural e biológica. Para que a ciência da conservação possa contribuir efetivamente para a transformação deste cenário, é essencial ouvir à diversidade das relações humano-natureza (RHN) existente em diferentes contextos. Em um nível individual, as RHN tratam-se de um conjunto de crenças sobre o ambiente não-humano estabelecidas por processos mentais e moldadas por contextos socioculturais, e abrangem diferentes dimensões, como afetiva, ética e ontológica. Permitem compreender a pluralidade de concepções sobre a natureza e como tratá-la, sendo especialmente relevantes entre atores locais, contextualizados em áreas de conflitos socioambientais. Porém, investigar as RHN é um desafio, dada a sua complexidade e imaterialidade. As pesquisas nesta área baseiam-se ou em escalas quantitativas e dedutivas, aplicadas em contextos urbanos e ocidentais, ou em entrevistas qualitativas indutivas não baseadas em dimensões conceituais comparáveis. Usando a Metodologia Q, que envolve etapas de análise quantitativas e qualitativas, e um framework abrangente sobre as dimensões/tipos de RHN, desenvolvemos uma ferramenta para descrever qualitativamente e comparar modos de pensar sobre as RHN, e a testamos entre atores locais da comunidade pesqueira artesanal de Siribinha, Bahia. Identificamos um framework plural de modelos relacionais humano-natureza para basear conceitualmente o desenvolvimento de frases que expressam o conjunto completo de dimensões/tipos de RHN. Desenvolvemos 44 frases, em um processo iterativo de adaptação da linguagem ao contexto local. A aplicação da ferramenta revelou três formas principais de pensar sobre as RHN em Siribinha, e forneceu insights sobre as raízes dos conflitos socioambientais locais. Seu desenvolvimento replicável e a amplitude de sua base conceitual permite que a ferramenta seja adaptada a diferentes contextos sociais e culturais, contribuindo para ciência da conservação promover a pluralidade e o diálogo na resolução de conflitos.
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Iniciação
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"Trade-offs" entre serviços e desserviços ecossistêmicos da perspectiva da demanda de proprietários rurais na Mata AtlânticaServiços e desserviços ecossistêmicos são conceitos que fazem parte de uma abordagem em Ciência da Conservação que se expandiu a partir dos anos 2000 e pôs em evidência a relação entre as necessidades humanas e os ecossistemas. Como um mesmo ecossistema pode prover múltiplos serviços e desserviços, “trade-offs” entre estes serviços e desserviços inter-relacionados — i.e. situações em que a otimização da provisão de um serviço diminui a provisão de outro, ou aumenta desserviços — são comuns. Compreender quais são esses “trade-offs” é essencial para informar o planejamento do uso dos recursos naturais, e envolve reconhecer que existem perdas e ganhos decorrentes das ações de conservação da biodiversidade e/ou desenvolvimento econômico. Entretanto, a maioria dos estudos têm focado nos “trade-offs” associados à provisão, existindo uma lacuna de conhecimento sobre como se dão esses “trade-offs” do ponto de vista da demanda – i.e., considerando o recebimento e valorização de serviços e desserviços por diferentes indivíduos ou comunidades humanas. Nesse projeto, pretendemos utilizar dados já coletados através de questionários aplicados via entrevistas com 106 proprietários rurais da região da Cantareira-Mantiqueira para investigar: (1) se há “trade-offs”, do ponto de vista da demanda, entre serviços e desserviços, (2) se estes “trade-offs” se manifestam mais fortemente quando se considera a frequência de recebimento de, ou a importância dada a, serviços e desserviços, (3) se os serviços e desserviços mais frequentemente recebidos são também os mais valorizados, e (4) se há grupos de proprietários que recebem frequentemente, ou dão importância, aos mesmos serviços ou desserviços e quais variáveis ambientais, sociodemográficas ou econômicas, definem esses grupos.
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